sexta-feira, 23 de julho de 2010

  
Quietude. A primeira impressão é a cidade de brinquedo. Mentira de verdade. Mais cinema.
Vertigem. Vertigem. Vertigem.
História transbordando de dentro do personagem real, filho, neto, pai, homem, os olhos azuis, a fala contínua, segura, emocionada, ele inteiro incorporado às ruas, às paredes, pisos, tijolos, incorporada às gentes. Ele firme. Condutor.
No espaço singular, um baque de céu recortado entre estruturas. Pedaços de parede pingando de cima, escorrendo dos tetos já desabados. Ancorados no quase nada, prestes a cair.
Invasão invertida, verde no cimento. Chão de marrom molhado. Musgo e troncos se impõem sobre as vozes antigas que habitaram ali há quase cem anos, onde deixar perder é ganhar, ou onde deixar perder é perder-se. Do lado de lá, as janelas suspensas cospem o excesso que vem plantado da terra e do cimento.
Dos pés das escadas para cima, corredores que não existem mais. Hoje desembocam em abismos provocantes. Vertigem. Olho para cima e o azul é tão limpo que amplia o infinito. Fecho os olhos. A vertigem acalma. Abro os olhos. O corpo todo, mesmo seguro, é inteiro vertigem.
Nesse corpo são balanços. Corpo pendurado. Fisgadas de medo. Pisar chão incerto, estreito. Equilíbrio para a queda pavorosa e tentadora. Ouvir o passado no chão. Meu corpo pedaço da pedra.
 
 
     
(Cristina Ávila / experiência da Cia. na Vila Maria Zélia/SP)

                                   

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