Foi na tentativa de uma organização temporária das cenas/procedimentos que o grupo desenvolveu nesta primeira etapa do projeto, que consegui esboçar um pequeno entendimento de questões que para mim, permeiam o nosso processo e que se correlacionam de certa forma, por uma conexão de similaridade conceitual.
O interessante é que não foi através de um “um olhar de fora” que consegui perceber essas relações, mas, através de um “olhar de dentro”, de quem enquanto intérprete participava ativamente no fazer, na vivência corporal de cada cena, e como quase um clichê, parece-me que desenvolvi um pensamento do próprio corpo.
Observei no fazer dançando, que a cada momento apresentavam-se para mim novas estruturas (as cenas) que aparentemente não tinham conexão entre si, pois elas se iniciavam e terminavam sem ter uma continuidade entre uma e outra, ou uma dramaturgia explícita que linearmente as ligavam. É como se cada cena tivesse uma existência própria no tempo/espaço, que independesse de um passado ou um futuro, elas não tinham um estado de ser, mas de estar – uma vez que, o ser é um estado permanente; e o estar é um estado passageiro. Porém, para mim, elas apresentaram uma característica em comum, justamente pelo tipo de organização escolhida em que elas se encontravam: eram estruturas que não se concluíam, ou seja, eram cenas que tentavam sempre criar padrões que não se sustentavam, níveis de organização que não se legitimavam plenamente. Creio que a estrutura de jogo proporciona isto, mas, que quase como jogo de criança, as situações não têm um tempo pré-determinado, mas estão abertas ao tempo necessário e se esgotam sem necessariamente por terem alcançado uma finalidade específica, mas se esvaziam em si mesmas e logo já surge algo novo que não precisa ter a ver com o que se fazia anteriormente, acho que pode ser a sensação de frescor, jovialidade para um vazio que num primeiro momento seria tão denso. Seria interessante então pensarmos o CAOS não como uma cena em si, mas como uma estrutura maior que abriga outras pequenas estruturas que não são regidas por uma regra em comum ou uma organização quase que universal, mas o que as relaciona é tentativa de criar padrões separadamente e que em conjunto não se correlacionam e ao mesmo tempo buscam encontrar uma organização para o TODO, o que não quer dizer que encontrarão. Seria esta uma relação quase que comparativa com as estruturas arquitetônicas que observamos que desmoronam e tentam criar novos padrões de existência no espaço urbano? Novas formas de significação diferentes daquelas de ocupação, utilidade, finalidade? Ocupam um espaço agora de memória, abandono? O que seria uma dança que se faz num espaço de estruturas temporais e espaciais que desmoronam o tempo todo, que tenta criar novos padrões de significação que não se concluem?
(Juliana Ferreira, a respeito do 1º Work in Progress)