terça-feira, 18 de março de 2014

_REVERBERAÇÕES_DARK_ROOM_

por Felipe Ibrahim, 17-03-2014:

“Dark Room” da In Saio Cia. de Dança: minhas impressões

Dark Room é o espetáculo da In Saio Companhia de Dança, com direção de Cláudia Palma, que pude acompanhar nesse fim de tarde de domingo, 16 de março, nos sempre-bons-espaços da Galeria Olido, no centro de São Paulo.

O quarto escuro da In Saio é ocupado por 6 bailarinos, em meio a eles nós, os espectadores-voyeurs, que somos aquecidos por movimentos rápidos, cortantes, violentos, respirações altas, mãos e pés acelerados. Começa assim nosso encontro.

Dark Room é quente, violento e ágil, mas sobretudo enlevado por diversas sutilezas e carinhos reconstrutores: despedidas, reencontros, separações bruscas. Credito a estes ‘sobretudos’ o pulo do gato da apresentação. Mas o que mais me intrigou foi a precisão. Não detenho os conhecimentos técnicos suficientes – da dança – para dizer que ‘isso sim, isso não’, mas nem eu nem você podemos negar o poder que aqueles corpos têm+conquistaram+disseram.

O que se propõe é a observação íntima e exposta de nossos desejos mais contidos, mas também daqueles realizados (enquanto prática afetiva e sexual). De pequenos delitos e realizações proibidas, do fetiche, da coisa. O corpo, ir e vir, estapear, conter, explodir, e também, sangrar. Vi uma plateia atenta, inserida no passo, sem se incomodar, movendo-se junto, com carinho, atenção e certa delicadeza em compreendermos nosso espaço ocupado. Também nos perdemos, dá vergonha, atinge, aflige, excita, olho ensaia uma lágrima, assusta e sorri. E não acho que seja num passe de mágica que se obtém isso de uma plateia, tem que saber fazer. Eles sabiam.

O espetáculo é exigente com o corpo de seus bailarinos-intérpretes. Os meninos têm mais destaque em cena, acredito que por escolhas coreográficas e de enredo mesmo, mas são imprescindivelmente acompanhados pelas meninas todas fortes num jogo onde só se ganha.

Neste quarto escuro, onde pouco se devia ver, é justamente o olhar que enlaça grande parte das sensações. Beijos delicados, carinhos trocados, cumplicidade e pequenas traições. O toque! O tapa! O desejo é assim: besta-fera, inescapável, gritante, lateja em mim, berra em você, espanta, atrai – obsessivo. Quando vejo espetáculos de dança tenho especial predileção pelos pés. Gosto de criar ângulos onde só acompanho os pés. Talvez um fetiche de espectador. Também penso no quanto eles sofrem – os pés – para que se realizem obras. E este espetáculo tem luz delicada, som pulsante e pés firmes, ágeis em seu descompasso, rapidez e fuga: choque. Mas tem força especialmente concentrada nas mãos e olhos. Dark Room é terreno, e não podia não ser. Carne, sexo, tesão, dor, aflição, alegria. A alegria é, se não, terrena. Calor, suor, saliva, sêmen: é na terra que se exibem.

Saí daquela pequena sala com a certeza de ter tido um momento de plenitude, arriscaria dizer de autoconhecimento. O espetáculo é apresentado para um público de aproximadamente 35 pessoas que ficam juntas aos bailarinos na plateia, e não podia ser diferente. É bom saber quem se leva para o quarto, e também, não sabê-lo. E descobrirem-se. Saber a dor, a delícia, a raiva, a vontade de fugir ou de que o mundo pare. Os quartos prendem, isolam, confidenciam, também mostram e escancaram: com este, escuro, é assim. Dividimos o espaço com competentes artistas e sentimos nisso, além de tudo já citado, o prazer de quase se tocar. E sentir (aqui registro os perfumes distintos e marcantes de cada um dos bailarinos-intérpretes). O programa do espetáculo traz um ‘olhar é quase tocar’. Não há dúvidas: assim o é.

Há apenas um ligeiro pecado na apresentação, quando aquele pequeno deleite – confessionário de segredos ditos e não – termina, não podemos aplaudir – de forma literal – como se fazem ao fim de importantes espetáculos. Enfim, não conseguimos aplaudi-los por aquele trabalho poderoso. E, sendo assim, para isso também escrevo estas linhas com minhas impressões.

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Outra impressão/opinião extremamente pessoal: se só pudéssemos fazer uma única coisa durante a vida, eu escolheria esta: conheça o teu corpo! Com os bailarinos e atores é sempre isso que mais me impressiona. Conhecer o próprio corpo é o bilhete-dourado para qualquer coisa. E, diante deste espetáculo reafirmo essa minha teoria.

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O espetáculo de dança esteve, até hoje, em curta temporada na Sala Paissandu, da Galeria Olido, mas eu não tenho dúvidas de que terá um longo caminho pela frente. Fiquem de olho no blog e nas mídias sociais da Cia. pois podem – e devem – rolar novas temporadas por aí (clique aqui e acá).

Aplausos!

link original: http://felipeibrahim.wordpress.com/2014/03/17/dark-room-da-in-saio-cia-de-danca-minhas-impressoes/


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por Roni Diniz, 14-03-2014:

DANCEI NU NA ESCURIDÃO

Breve suspiro. Desnudaram-me o peito e arrepiei-me a nuca.
Mãos fugidias arrancaram-me as roupas,
Ternas mãos pulsantes conduziram-me ao lugar escuro.
Olhos, amigos de infância recém-feitos, mostraram-me o caminho.
Seis vultos cadentes em negro abismo íntimo envolveram-me,
E comigo alçaram voo a plainar em rima e solavanco
Dançavam rumo às trevas dentro em mim!
Quarto trancado e invadido, outrora cego sob a luz.
Ao riso arisco e louco de criança inocente e boquiaberta,
Ofegantes coitos e caloroso abraço mutilado em mim.
Dancei em transe neste corpo que habito em ti,
Enquanto me roubaste o ido e o vir em confissões ingênuas
No mistério do perdido instante em movimento ofusco que levou-me!
Rasgaram-me, violentas mãos, sedentas de si mesmas e d’outros.
Lançaram-me na escuridão, braços abertos, poros despertos.
Afoguei-me, sem querer, maré, saudades suas que são minhas
E renasci em estridente grito mudo que se ouve e não se esquece.
Nunca mais me deixem e dancem em minha carne e ar,
Ar fragrante no qual deslizam inspirando-o frente ao meu rosto imóvel
Que me abocanha os medos ao vibrar de cordas invisíveis...
Saltaram-me aos olhos sob a escuridão em chamas.

(Livremente inspirado na experiência vivida no espetáculo Dark Room de Dança Contemporânea)

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por Felipe Cirilo, 02-03-2014:

Certo de que hoje o que me acontece é fruir uma experiência no/pelo/com o movimento, a cinestesia. Arrepios em aproximaçoes o tempo todo, desejo de tocar, movimento do outro que toca dentro do meu corpo, que me puxa. Tensões em pausas densas, corpos porosos entre si.
Só nao chegam a porosidade com o público por inatividade de nós mesmos, público (s? Até onde públicos?) (e) castrado do toque e da aproximação, automatizado na visão, em não ver em diversos lugares, espaços, caminhos, meios...
Fato, estamos estáticos ao que está diante dos nossos olhos, temos medo e espera. Pensamos estar longe de determinados lugares, limitamos todo o nosso espaço o tempo todo (e a problemática desse limitar hj pode estar num espaço grande, grande demais além do toque, acreditar q os limites nao existem, q podemos alcançar longe, porém sem tocar o perto)
Mantemos os mesmos caminhos, posições predeterminadas (nao por nós, as vezes)...
meio... somos meio, estamos no meio, sabemos e sentimos quais são os meios por onde. E em meio a movimentos alheios, somos alheios, ficamos ao meio da curva, NO rio. Esquecemos q podemos ser meio para o caminho do outro, corpo-obstaculo, corpo-relacao pelo simples deslocar e mover dos corpos, pelo acaso e pla porosidade de aceitar a relação, deestarmos dispostos à experiência.
O dark que não está fora, no room... um dark que não permite o ver com o sentir em movimento, que os mantém apartados e frios.


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por Monique Tomazi, 27-02-2014:

Tão dentro de tudo, mas ao mesmo tempo perseguia-os continuamente pelo lado de fora. Era silêncio, âmbar, olhos, estar perto.

Havia uma porta aberta...
Dentro. Foi como se eu pudesse resgatar sentidos, sensações (ou quase todos eles). É um mix de memórias-pele aqui dentro.

Estava envolta a n's ciclos de resposta.

Aqui, tudo que separa, junta. Onde mais se tira, permite. Mais se revela, se vê.
Se soma! -Reflexo.

Foi como se eu quisesse falar,
Ei , eu tenho um segredo a revelar ...
Dark Room!


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