quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Para DARK ROOM. Um mês depois do início do processo com o elenco completo - tem sido assim.


"Talvez a proximidade desfaça minha imagem no outro. Eu derreto, diluo, misturo e me perco num só."
(Claudia Palma)


“O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos.” 
(Marguerite Yourcenar, por Vinícius Francês, 16/ago)



(Oldřich Kulhanek,  por Natalia Franciscone, 12/ago)

















   

"Eu conheço exatamente o momento, o lugar, em que te reconheci. Quando puseste o meu chapéu branco e me olhaste e eu vi os teus olhos. Tu eras eu. Não foi preciso mais. Foi aí que me perdi em ti sem regresso. Eu não posso regressar. Não quero regressar."
(Pedro Paixão, por Natalia Franciscone, 11/ago)


deslizava de mim esse eu afetado não científico:

penso em vocês e me vejo outra.
um lugar que desconheço, cheio de afeto, por trilhar.
estão em mim (cada um a sua maneira).
rasgando tento desprender-me do velho, do roto, do gasto, do uso... me encontro comigo,
frente a frente,
diante da dúvida;
onde me reinvento? como? de onde?
brota na beira de mim um acidente,
transbordando e transbordada o desejo deforma, reforma, se instala.
já é
já está
fica aí,
é esse o lugar que antes nem via!

o trabalho já foi feito, a partir de agora tudo é outro...
(Mariana Molinos, 08/ago)


Solidão. Guardei. E então. Fluxo contínuo passo que não pára os passos não param redondo corrente ar música vem atrás de mim é caminho caminho passadas de ar braços pelas trajetórias de quem não sei quem é tem braços rasgando mergulhos que não terminam de construir espaços de cuidado "talvez no tempo da delicadeza".
(Cristina Ávila, 08/ago)

BENTO, ESTAMOS DE OLHOS FECHADOS

É... A suspeita do meio fio.
Entre as transas e os transeuntes, negócios em movimento.
Soluções são soluços de ideia. E, hoje, a ideia foi pra rua. Pra ruir!

Camburões feito navios negreiros seguiram. Sorriram para corpos brancos. Composição de paisagem na minha escuridão. Breu que não teme, não nega voz, surge em ação. Provocação fina e fiada.

Segundos de imortalidade em espaços urbanos que nunca habitei. Ocupei sem habitar, me lancei sem olhar.

Explodi em facetas, a paixão em pedaços rústicos.

Eramos nós. Eu era nós. Protegido, aproximado e agraciado por olhares doces.

Vi o amor de perto, perguntei "Por que?"... E não achei resposta.

Foi-se ela, endereçada a São Bento.
(Vinícius Francês, 08/ago)


"Se cada dia cai, dentro de cada noite, há um poço onde a claridade está presa...
...Há que sentar-se na beira do poço da sombra e pescar luz caída com paciência."
(Pablo Neruda, por Vinícius Francês, 02/ago)


Quando eu olho pra você, vejo a mim no que eu, embora não possa ser, sou.
(Cristina Ávila, 01/ago)


Ver, tocar, eu em você, você em mim, entre melhores e piores.
(texto: Vinícius Francês, imagem: ?, 31/jul)


"Me vejo no que vejo
Como entrar por meus olhos
Em um olho mais límpido

Me olha o que eu olho
É minha criação
Isto que vejo

Perceber é conceber
Águas de pensamentos
Sou a criatura
Do que vejo"
(Haroldo de Campos, na voz de Marisa Monte, por Mariana Molinos, 30/jul)


A função da arte/1
"Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovakloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: - Me ajuda a olhar!”
(Eduardo Galeano, por Cristina Ávila, 25/jul)
 

(...) A cegueira atravessou a cena. O homem provavelmente viu um espetáculo só dele, um espetáculo outro, algo que contém e/ou está contido no espetáculo que foi visto por todo o restante da plateia. Reforça-se a ideia de que a dimensão de qualquer criação está além do que se prevê, ou se vê, literalmente.
Se em qualquer obra o ponto de vista do espectador é elemento participante na construção daquilo que se assiste, ali essa relação acontecia com potência inquestionável. Ambos foram co-autores, coreografaram por cima da coreografia pronta como desenhos sobrepostos uns aos outros, camadas de olhares (sejam estes videntes ou cegos), camadas de percepção, camadas de interpretação.
Mergulho profundo num diálogo entre interior e exterior. A dança se redesenhou no pensamento. Lá ela foi outra, ímpar, pelo lado de dentro.
(Cristina Ávila, 29/mar reencontrado em 24/jul)