sábado, 31 de julho de 2010

1º WORK IN PROCESS - “O OLHAR DE DENTRO”

  
Foi na tentativa de uma organização temporária das cenas/procedimentos que o grupo desenvolveu nesta primeira etapa do projeto, que consegui esboçar um pequeno entendimento de questões que para mim, permeiam o nosso processo e que se correlacionam de certa forma, por uma conexão de similaridade conceitual.

O interessante é que não foi através de um “um olhar de fora” que consegui perceber essas relações, mas, através de um “olhar de dentro”, de quem enquanto intérprete participava ativamente no fazer, na vivência corporal de cada cena, e como quase um clichê, parece-me que desenvolvi um pensamento do próprio corpo.

Observei no fazer dançando, que a cada momento apresentavam-se para mim novas estruturas (as cenas) que aparentemente não tinham conexão entre si, pois elas se iniciavam e terminavam sem ter uma continuidade entre uma e outra, ou uma dramaturgia explícita que linearmente as ligavam. É como se cada cena tivesse uma existência própria no tempo/espaço, que independesse de um passado ou um futuro, elas não tinham um estado de ser, mas de estar – uma vez que, o ser é um estado permanente; e o estar é um estado passageiro. Porém, para mim, elas apresentaram uma característica em comum, justamente pelo tipo de organização escolhida em que elas se encontravam: eram estruturas que não se concluíam, ou seja, eram cenas que tentavam sempre criar padrões que não se sustentavam, níveis de organização que não se legitimavam plenamente. Creio que a estrutura de jogo proporciona isto, mas, que quase como jogo de criança, as situações não têm um tempo pré-determinado, mas estão abertas ao tempo necessário e se esgotam sem necessariamente por terem alcançado uma finalidade específica, mas se esvaziam em si mesmas e logo já surge algo novo que não precisa ter a ver com o que se fazia anteriormente, acho que pode ser a sensação de frescor, jovialidade para um vazio que num primeiro momento seria tão denso. Seria interessante então pensarmos o CAOS não como uma cena em si, mas como uma estrutura maior que abriga outras pequenas estruturas que não são regidas por uma regra em comum ou uma organização quase que universal, mas o que as relaciona é tentativa de criar padrões separadamente e que em conjunto não se correlacionam e ao mesmo tempo buscam encontrar uma organização para o TODO, o que não quer dizer que encontrarão. Seria esta uma relação quase que comparativa com as estruturas arquitetônicas que observamos que desmoronam e tentam criar novos padrões de existência no espaço urbano? Novas formas de significação diferentes daquelas de ocupação, utilidade, finalidade? Ocupam um espaço agora de memória, abandono? O que seria uma dança que se faz num espaço de estruturas temporais e espaciais que desmoronam o tempo todo, que tenta criar novos padrões de significação que não se concluem?

(Juliana Ferreira, a respeito do 1º Work in Progress)
                           

quinta-feira, 29 de julho de 2010

iN SAiO Companhia de Arte
convida para o
I Work in Progress: projeto "O Olhar de Dentro"
direção: Claudia Palma

sexta-feira, 30 de julho, 17h
Local: Núcleo Artístico Pedro Costa
Rua Almirante Marques Leão, 353 - Bela Vista - tel.: 2366-4006

informações:
www.insaiociaarte.blogspot.com
insaio_ciadearte@hotmail.com

sexta-feira, 23 de julho de 2010

  
Quietude. A primeira impressão é a cidade de brinquedo. Mentira de verdade. Mais cinema.
Vertigem. Vertigem. Vertigem.
História transbordando de dentro do personagem real, filho, neto, pai, homem, os olhos azuis, a fala contínua, segura, emocionada, ele inteiro incorporado às ruas, às paredes, pisos, tijolos, incorporada às gentes. Ele firme. Condutor.
No espaço singular, um baque de céu recortado entre estruturas. Pedaços de parede pingando de cima, escorrendo dos tetos já desabados. Ancorados no quase nada, prestes a cair.
Invasão invertida, verde no cimento. Chão de marrom molhado. Musgo e troncos se impõem sobre as vozes antigas que habitaram ali há quase cem anos, onde deixar perder é ganhar, ou onde deixar perder é perder-se. Do lado de lá, as janelas suspensas cospem o excesso que vem plantado da terra e do cimento.
Dos pés das escadas para cima, corredores que não existem mais. Hoje desembocam em abismos provocantes. Vertigem. Olho para cima e o azul é tão limpo que amplia o infinito. Fecho os olhos. A vertigem acalma. Abro os olhos. O corpo todo, mesmo seguro, é inteiro vertigem.
Nesse corpo são balanços. Corpo pendurado. Fisgadas de medo. Pisar chão incerto, estreito. Equilíbrio para a queda pavorosa e tentadora. Ouvir o passado no chão. Meu corpo pedaço da pedra.
 
 
     
(Cristina Ávila / experiência da Cia. na Vila Maria Zélia/SP)

                                   

sexta-feira, 9 de julho de 2010

   
Algum vento, quase nada. Tropeços num corredor falsamente estreito, de próximas paredes imaginárias, enquanto a luz que vem de cima é de espaço infinito. Corredor revelado mais tarde tão diferente que não era o mesmo lugar. Rangido musicando forte, roubando outro qualquer. Rangido de novo, intermitente. Numa projeção imaginária, cinematográfica, em torno dele são estruturas abandonadas, sem preenchimento, vazadas de gente, vazadas de paredes, vazadas de matéria viva. O rangido denuncia as presenças. Sem ninguém, talvez deixe de existir. Pausa. Aos poucos quem está próximo começa a se diluir. Desaparece, mas fica a respiração. Estou sozinha ao lado da respiração de alguém. Rangido de novo. Queria mais vento e menos muros. Abrem-se os olhos. Uma imensidão quase sem cor, espaço preenchido por tanto desconhecido. Quais universos existem em cada janela? E são milhares, milhões, ou mais. Quadrados disformes, retalhos, rachaduras. Histórias escondidas nas esquinas invisíveis, nas multidões subterrâneas. Carros se movem em uníssono, mais lentos se vistos de cima. A visão do todo modifica a da proximidade. A cidade não termina nunca. Ao mesmo tempo, vista assim, quase cabe nos olhos. Quase cabe num quadro. Constrói-se em degraus. Sua dimensão é que não cabe no entendimento. Não tem ordem nem sentido, vem profusa e condensada. Parece conter uma beleza ressecada.

"A memória guardará o que valer a pena. A memória sabe de mim mais que eu; e ela não perde o que merece ser salvo. Febre de meus adentros: as cidades e as gentes, soltas da memória, navegam para mim: terra onde nasci, filhos que fiz, homens e mulheres que me aumentaram a alma." (Eduardo Galeano)
  
(Cristina Ávila / visita da Cia. ao Condomínio Edifício Viadutos/SP)
                

quarta-feira, 7 de julho de 2010